26 de setembro de 2008

Lar Doce Bar

Amanhã eu e minha esposa vamos nos mudar para um novo apartamento e nos deparamos com um problema: não temos um móvel que possa servir de bar em nosso novo habitat.

Ainda não tive tempo de procurar nas lojas, mas resolvi dar uma olhada no eBay para ver o que anda agitando o mercado nesse ramo. Vejam as opções que ele me mostrou.

Esse aqui é o mais barato e simplezinho de todos, e custa uns US$ 600,00:

Caro demais, não é mesmo? E o que me dizem então desse outro, maravilhoso, que custa mais ou menos uns US$ 2.700,00?

Como podemos observar pelo reflexo do espelho no fundo, o pobre coitado vive abandonado em um depósito de cimento! Coitadinho. Olhem só que belo design, e tem até uma pia no meio!

Agora, se vocês querem mesmo passar mal, olhem só essa belezura:

Esse aí não sai por menos de US$ 5.000,00 - que tal?

Humilhado pelos fatos, recolhi-me à minha insignificância e passei a me conformar com soluções mais adequadas à minha realidade, como guardar as minhas garrafas debaixo da pia da cozinha, os copos no escorredor de pratos, e as frutas na geladeira. Quando eu quiser servir uma caipirinha para os meus amigos, eu os convido até o bar da esquina da minha nova e aconchegante casa de sóbrios.

Será que nosso herói vai mesmo desistir assim tão fácil? Não percam o próximo e eletrizante episódio dessa saga aventuresca!

25 de setembro de 2008

Pérolas do saber cachacístico

Se o Papa de Roma soubesse o gosto que a cana tem,
deixava Roma sem Papa e bebia cana também.

Macaco velho não se engana.
Te afasta, alma, que lá vai cana.

Cachaça, não se faça de besta:
desça pra barriga, e não suba pra cabeça.

Água pra mim, só se for ardente.
Nela eu tomo banho e até escovo os dente.

A cachaça, essa eterna incompreendida

- Caipirinha? Não, está muito cedo para beber cachaça. Me vê uma caipivodka!

Se eu ganhasse uma caipirinha para cada vez que já ouvi uma frase parecida com essa, seria um homem feliz. Existe em nosso país, de maneira geral, um certo preconceito contra a cachaça. Não é apenas uma questão social, de vincular a cachaça ao pinguço do bar da esquina ou ao capiau da roça -há também um preconceito químico contra a pobre bebida, que faz com que as pessoas tenham a impressão de que ela é mais forte ou mais prejudicial ao cérebro do que a vodka ou outros destilados.

Uma coisa é certa: existe muita cachaça de má qualidade por aí. Provavelmente é a bebida que tem mais marcas picaretas no mercado brasileiro, seguida de longe pela vodka. E provavelmente o que acontece é que as pessoas costumam pedir caipirinha sem perguntar antes qual é a marca da cachaça. Os bares e restaurantes, em sua eterna busca pelo lucro máximo, costumam fazer caipirinha com a cachaça mais barata em que puderem pôr as mãos, e quem paga a conta é o estômago do pobre cliente.

Isso é outra lenda muito errada no nosso Brasil: muita gente gosta de dizer, repetindo sem pensar, que "caipirinha se faz é com cachaça ruim", como se a cachaça boa fosse tão rara que só devesse ser bebida pura. Muita gente aplica esse mesmo raciocínio a outras bebidas também, e se recusa a fazer misturas com vodkas importadas, por exemplo. Sempre me xingam nos bares porque bebo Jack Daniel's com Coca-Cola! Mas que excesso de humildade é esse que impede que nós, brasileiros, bebamos destilados de boa qualidade em nossas misturas, e nos obriga a só fazer caipirinha com cachaça vagabunda? Será que nossos pobres organismos não merecem um tratamento melhor?

Claro que você não precisa desperdiçar uma dose de Anísio Santiago para fazer uma caipirinha, mas daí a beber monstruosidades engarrafadas como Seleta, Pirassununga 51 (ou pior ainda - 21), Vila Velha e outros venenos, é um caminho comprido demais. Por que não fazer caipirinha com uma boa cachaça de pequena produção, que não seja totalmente artesanal (o que costuma encarecer o produto) mas que também não seja o produto de uma mega indústria que produz milhões de litros de pinga por ano?

O maior problema das cachaças industrializadas é que elas são fabricadas em equipamentos de metal, e não passam pelo processo tradicional de envelhecimento em tonel de madeira. A cachaça, assim como outros destilados, ganha muito em sabor e qualidade quando é envelhecida em tonel de madeira, e os especialistas na bebida (estou longe de ser um deles, sou apenas um mero apreciador de caipirinhas!) escolhem a marca que vão beber pela madeira e pelo tempo que a cachaça foi envelhecida.

Dá para reconhecer uma boa cachaça só de olhar para ela e sentir seu cheiro. A cachaça envelhecida, assim como outros destilados, é amarelada, e não transparente. Quando é servida no copo, faz pouca ou nenhuma espuma, e é encorpada. A cachaça de má qualidade é muito líquida e volátil - uma bebida "mole", transparente como água, e que costuma fazer uma espuminha em volta do copo. Basta servir um copo de 51 ao lado de um copo de Vale Verde e a diferença aparece na hora. Uma boa cafungada no copo também ajuda na escolha.

Acredito que a cachaça Vale Verde seja a melhor relação custo-benefício do mercado atual de cachaças. As caipirinhas feitas com ela descem macias, e dá para bebê-la até mesmo pura. Aqui perto de Belo Horizonte você pode visitar a fábrica dela, e até mesmo fazer a sua festa de casamento lá! Recentemente ela foi eleita pela Playboy como a melhor cachaça do Brasil - provavelmente porque eles levaram em conta não apenas o sabor mas também o preço.

Infelizmente a Vale Verde não é muito conhecida fora de Belo Horizonte, então se você está lendo este artigo em outra região, a melhor recomendação que eu posso fazer é que você procure a cearense Ypióca Ouro. É a melhor cachaça industrializada do Brasil - apesar de ser feita em uma grande fábrica, ela passa pelo processo de envelhecimento na madeira, e tem um sabor bem mais agradável do que de qualquer outra concorrente nessa faixa de mercado, inclusive da própria Ypióca Prata. Ao contrário de suas concorrentes mais toscas, ambas as modalidades de Ypióca são envelhecidas em tonel de madeira durante dois anos - a Prata em tonel de bálsamo, e a Ouro em tonel de freijó. É fácil reconhecer a danada no supermercado: é aquela cuja garrafa é coberta com uma palhinha trançada e no rótulo tem um tiozão barbudo de gola rolê.

Se você estiver a fim de investir uma boa grana e ter uma agradabilíssima surpresa, pode desenbolsar uns R$ 262,99 e comprar uma garrafa de 600ml de Anísio Santiago, a melhor cachaça do mundo. É um ótimo presente para humilhar gringos que chamam cachaça de "brazilian rum". Eu já bebi dela uma vez, e posso garantir que nunca experimente nada igual. Parece cachaça misturada com mel - só que não tem mel.

Existe ainda uma tal de Sagatiba Preciosa que custa quase R$ 500,00 mas, francamente, um bom mineiro como eu se recusa a dar 1 centavo que seja para a fábrica da Sagatiba. Quem já bebeu um gole da Sagatiba normal sabe muito bem que aquilo é qualquer outra coisa que não cachaça.

E nunca se esqueça: fique longe da Seleta! Aquilo é o xixi do capeta!

21 de setembro de 2008

Comendo Bebidas

As bebidas alcoólicas não servem apenas para beber. Além de vários outros usos, elas também são excelentes ingredientes culinários.

Para provar isso, apresento aos queridos leitores três receitinhas que usam goró entre os ingredientes. Vamos fazer uma refeição completa, com entrada, prato principal e sobremesa.

Que tal começar com uns canapés de Pão de Cerveja? A receita é do site Recipezaar, tradução minha:

Pão de Cerveja

Ingredientes:
  • 3 xícaras de farinha de trigo peneirada
  • 3 colheres de chá de Fermento em Pó Royal*
  • 1 colher de chá de Sal*
  • 1/4 de xícara de Açúcar
  • 1 lata (350ml) de Cerveja
  • 1/2 xícara de manteiga derretida
Se você usar aquelas farinhas que já vêm com fermento, ignore o fermento e o sal também. Se achar que 1/2 xícara de manteiga é muita, pode usar menos, tipo 1/3 ou 1/4 de xícara.

Instruções:
  1. Peneire muito bem a farinha de trigo antes de começar a usá-la. Quanto mais fina a peneira, melhor.
  2. Pré-aqueça o forno a 190 graus (o site diz 375 mas acredito que seja Fahrenheit).
  3. Misture em uma vasilha os ingredientes secos e a cerveja.
  4. Coloque a mistura em uma forma de pão untada.
  5. Espalhe a manteiga derretida por cima da mistura.
  6. Asse durante 1 hora, tire da fôrma e deixe esfriar por 15 minutos.
Dá para servir canapés, comer com patê, manteiga, fazer bruschetta, ou só comer puro mesmo. Experimente tipos diferentes de cerveja e observe a diferença no sabor!

Macarrão à Bolonhesa

Essa receita não é de site nenhum, é minha mesmo. Fiz hoje e ficou uma delícia.

Ingredientes:
  • 1 lata de Tomate italiano sem pele
  • 1 caixa de Purê de Tomate sem tempero
  • 200g de Patinho moído
  • 1 copo de Vinho tinto
  • 1 Cebola ralada
  • Sal
  • Pimenta do Reino
  • Manjericão em pó
  • Purê de alho
Instruções:
  1. Refogue a carne moída em azeite com um pouco de manjericão, sal e pimenta do reino a gosto. Reserve.
  2. Em mais azeite, refogue a cebola ralada e o alho. Misture o vinho e deixe reduzir.
  3. Amasse os tomates italianos com um garfo até ficarem bem líquidos, apenas com uns pedacinhos boiando. Refogue-os junto com a cebola. Acrescente também o purê de tomate.
  4. Misture a carne moída temperada, mexa bem, e deixe cozinhar em fogo baixo até engrossar.
Pode ser usado com qualquer tipo de massa, mas fica bom mesmo é com aquele macarrão parafusinho de fazer macarronese.

E agora, para a sobremesa, um velho clássico. Com certeza você já comeu um desses na casa da vovó. A receita é da Maria Clara do site Culinária & Receitas.

Pavê de Conhaque

Ingredientes:
  • 1 lata de Leite Condensado
  • 1 medida (lata) de Leite
  • 1 colher (sopa) de Maisena
  • 3 Gemas de ovo
  • 1 colher (sopa) de Essência de Baunilha
  • 1 lata de Creme de Leite
  • 1 pacote de Biscoito Maisena
  • 3 colheres (sopa) de Conhaque
  • 200g de Coco ralado
Modo de preparo:
  1. Coloque o leite condensado em uma panela.
  2. Dissolva as gemas e a maisena no leite e leve ao fogo, mexendo até engrossar.
  3. Misture a baunilha e o creme de leite e deixe esfriar.
  4. Em um refratário, monte camadas alternadas de biscoitos regados com o conhaque, do creme já frio e de coco ralado.
  5. Leve à geladeira por 3 horas antes de servir.

Por hoje é só! Divirtam-se na cozinha! E lembrem-se: cozinhar bêbado pode provocar tragédias tanto incendiárias quando gastronômicas...

20 de setembro de 2008

Winston Churchill

Montgomery: "Eu não bebo, não fumo, e estou 100% saudável."
Churchill: "Eu bebo, fumo, e estou 200% saudável."

"Eu tirei mais do álcool do que ele tirou de mim."

"Quando eu era jovem, estabeleci uma regra de nunca beber um drink antes do almoço. Agora, minha regra é nunca beber um drink antes do café-da-manhã."

Lady Astor: "Se o senhor fosse meu marido, eu colocaria veneno no seu café!"
Churchill: "E se eu fosse seu marido, eu beberia o veneno."
Lady Astor: "Sr. Churchill, o senhor está bêbado!"
Churchill: "E a senhora é feia e gorda. Amanhã de manhã, eu vou estar sóbrio. E a senhora?"

W. C. Fields

"Todo mundo precisa acreditar em alguma coisa. Eu acredito que vou tomar mais um drink."

"Isso me lembra da viagem que fiz aos desertos do Afeganistão. Nós perdemos nosso saca-rolhas e tivemos que passar muitos dias sobrevivendo apenas com comida e água."

"Eu nunca bebo água, por causa das coisas nojentas que os peixes fazem nela."

"Sempre leve consigo uma garrafa de uísque para o caso de ser picado por uma cobra. Não esqueça de levar também uma cobra."

Depois do ataque a Pearl Harbor, Fields levou um caminhão até a loja de bebidas e comprou seis caixas de garrafas de gin. Quando o balconista da loja perguntou por que ele estava comprando seis caixas de gin, Fields respondeu: "Essa guerra vai ser curta, seis caixas serão suficientes."

13 de setembro de 2008

Dossiê Drink Drinker: O Martini do James Bond!

Muito se fala - inclusive nesse blog - sobre a relação entre o personagem ficcional James Bond e o famoso cocktail Dry Martini. Nossa reportagem decidiu tirar isso a limpo e encontrar, na obra original do escritor Ian Flemming, a verdadeira origem dessa mitológica relação.

No primeiro livro da série, Casino Royale, Bond pede um Martini ao barman do cassino (tradução minha):
- Um dry martini. - disse Bond. - Um. Em um cálice fundo de champanhe.

- Oui, monsieur.

- Espere. Três medidas de Gordon's, uma de vodka, e meia medida de Kina Lillet. Agite até ficar bem gelado, depois acrescente uma carca de limão bem fina e comprida. Entendeu?

- Certamente, monsieur. O barman parecia feliz com a sugestão.

- Puxa, isso é o que eu chamo de drink. - disse Leiter.

Bond riu.

- Quando eu estou... ahn... me concentrando, - explicou, - eu nunca tomo mais do que um drink antes do jantar. Mas eu gosto que ele seja grande e bem forte, e muito gelado e muito bem feito. Eu odeio porções pequenas de qualquer coisa, especialmente quando elas são ruins. Esse drink é uma invenção minha. Vou patenteá-lo assim que eu conseguir pensar em um bom nome.
Mais tarde, Bond batizou seu drink de Vesper, que é o nome de seu "interesse romântico" no livro.

Kina Lillet é um aperitivo de vinho branco feito em Podensac, uma cidadezinha da região de Bordeaux, na França. Ele tinha um sabor amargo porque continha quinino (daí o nome Kina), mas a quantidade de quinino da receita original foi reduzida em 1986. No entanto, a bebida existe até hoje no mercado estrangeiro.

Drink Drinker experimenta: Gin

Ao longo de minha carreira de bêbado ilustre (o antônimo de alcoólatra anônimo), já experimentei várias marcas de gin, que se tornou uma de minhas bebidas favoritas de todos os tempos. Gostaria de compartilhar com os amigos leitores as minhas experiências pessoais com as marcas de gin disponíveis no nosso querido e alcoolicamente despreparado Brasil.

Existem basicamente três faixas de preços de gin no Brasil: Gin Importado, Gin Nacional, e Gin de Brincadeira.

Os Gins de Brincadeira são aqueles que custam menos de 10 reais, como Rocks e Asteca. Assim como as vodkas de 10 reais, nenhum deles merece confiança, e recomendo a todos que preservem seus cérebros e fígados evitando bebidas de qualidade duvidosa. Como diria o Ministro das Minas e Energia, "álcool é um assunto muito sério".

Na faixa dos 20 reais temos duas marcas de gin nacional: uma boa e uma ruim. Todo mundo que eu conheço que bebe gin concorda com esse assunto: o Seager's é ruim (i.e. sabor amargo, desce queimando, dá ressaca e dor-de-cabeça no dia seguinte) e o Gilbey's é bom (não é tão bom quanto os importados, mas não apresenta nenhum dos problemas acima mencionados). Infelizmente, a grande maioria dos bares só compra gin da marca Seager's, sei lá por que diabos. Provavelmente porque ele custa mais caro do que o Gilbey's. Parece loucura mas é verdade. Como 99,999% dos donos de bar e gerentes de restaurante não bebem gin, eles compram meio que por obrigação - quando compram - e na dúvida de qual marca escolher acabam pegando a mais cara pensando que deve ser melhor. Pois não é. Eu nunca conheci ninguém que gostasse mais de Seager's do que de Gilbey's. O Gilbey's é a Smirnoff do gin - melhor relação custo-benefício que tá tendo. UPDATE: infelizmente o gin Gilbey's desapareceu do mercado nacional. Se você quiser fazer uma receita que leve gin, e estiver sem grana para comprar um importado, a melhor opção é o STEINHAEGER BECOSA. Steinhaeger nada mais é do que um tipo de gin, e o Becosa é bem seguro, desce suave, pode substituir sem susto.
Agora, na faixa de preço um pouquinho mais dolorosa, as coisas começam a ficar realmente boas. Eu poderia passar a vida toda bebendo Gin Tônica de Gilbey's, mas depois que conheci essas belezuras importadas, minha vida mudou para melhor.

Muito melhor.

Dei uma pesquisada no site da Imigrantes Bebidas e encontrei as seguintes marcas disponíveis (todas em garrafas de 750 ml):
  • Gordon's (R$71,99)
  • Tanqueray (R$80,99)
  • Beefeater (R$87,99)
  • Bombay Sapphire (R$94,99)
Dizer que um deles é melhor do que os outros seria me pedir para matar um filho para salvar os outros três. Mas uma coisa eu posso garantir: se depois de beber um drink feito com qualquer um dos quatro você continuar achando que gin parece perfume, é porque sua língua está estragada. Para falar a verdade, eu gosto tanto de gin que eu nem compro mais perfume. Quando preciso ir a algum evento que exige uma perfumada no cangote, saco minha garrafa de Bombay ou de Gordon's e passo um pouquinho nos punhos e atrás das orelhas. Não falha nunca.

O complicado de resenhar gin é que o sabor é tão intenso e complexo que fica difícil de explicar com palavras. Já vi gente dizer que não gosta do Beefeater porque ele é burocrático demais. Já vi gente dizer que o Gordon's é um gin confiante. No final, parece que você está falando não de bebidas, mas de velhos amigos.

Pensando melhor, talvez você esteja mesmo.

crédito da foto: pinballrebel.com

Gin - O Crack Engarrafado!

Quando você pede um drink com gin em um bar ou restaurante do Brasil, os comentários mais comuns que você ouve são os seguintes:

- Gin é o último estágio do alcoolismo!
- Gin tem gosto de perfume!
- Gin é bebida de velho!

Esses comentários fazem parte do inconsciente coletivo, e quase todo mundo os têm na ponta da língua, não demonstrando pudor algum em dispará-los contra o pobre e inocente bebedor de gin, e sem demonstrar ao menos uma ponta de curiosidade. No entanto, depois de ser agraciado com uma amostra do mais puro gin London dry, a pessoa nunca mais volta atrás: eu nunca ouvi falar de um ex-bebedor de gin. Além do mais, todo alcoólatra que eu conheci na minha vida só bebia cerveja nacional, perfume é uma coisa muito cheirosa, e coisas de velho sempre são mais legais do que coisas de jovem - como, por exemplo, as bebidas, as gírias, as roupas, e as músicas.

Vou contar agora a pequena história dessa misteriosa bebida, para nos ajudar a compreender melhor o seu valor.

Tudo começou na Holanda, por volta do século XVII, quando o médico e cientista alemão Franciscus Sylvius começou a desenvolver um remédio para curar doenças do aparelho digestivo como lumbago, problemas de fígado e coisas do gênero. O remédio, feito à base de álcool de grãos e uma frutinha chamada zimbro, logo se espalhou pelas farmácias de toda a Amsterdã e região.

Em 1688, ocorreu na Inglaterra a Revolução Gloriosa, que destronou o rei James II e o substituiu pelo holandês Guilherme de Nassau e Orange, que tornou-se então o rei James III da Inglaterra, Irlanda e Escócia. Após sua ascensão ao trono, seguiu-se um período de abertura de mercado para produtos holandeses, e então o remédio do Dr. Sylvius passou a ser consumido na boa e velha Albion.

Esse remédio/bebida era até então conhecido como "jenever", por causa da palavra francesa para zimbro (foto), que é "genévrier". Até hoje, na Holanda, produz-se o jenever, com álcool de centeio e zimbro, e envelhecido em tonéis de madeira, o que deixa a bebida com um colorido semelhante ao do uísque escocês. Sua graduação alcoólica é relativamente baixa, e o sabor é bem diferente do gin como o conhecemos hoje em dia.

Quando o jenever começou a se popularizar na Inglaterra, o governo liberou sua produção e impôs altas taxas de importação para destilados de origem estrangeira. A idéia era incentivar a economia local, e também criar uma utilidade para o cereal de baixa qualidade que não servisse para fazer cerveja. Por volta de 1740, a produção de jenever na Inglaterra já era seis vezes maior do que a de cerveja, e o baixo custo da bebida fez dela a favorita das classes mais desfavorecidas.

Nessa época, haviam em Londres mais de 15.000 casas de bebida, e mais da metade delas vendia gin. Foi então que surgiu a péssima fama do gin: mergulhados em depressão e miséria, os pobres londrinos começaram a se afogar no gin, em bares que anunciavam "1 centavo para ficar bem, 2 centavos para ficar ótimo, com 3 centavos você desmaia" e ofereciam camas de palha para os clientes caírem com conforto. Desde essa época, até hoje os ingleses chamam os bêbados de "gin-soaked", e se referem ao gin como "Mother's Ruin" (Ruína de Mãe).

Em 1751, o artista inglês William Hogarth fez duas gravuras retratando essa situação, chamadas "Beer Street" e "Gin Lane". Essa é a gravura "Gin Lane":

Ela era acompanhada do seguinte poema, tradução minha:

Gin, cursed Fiend, with Fury fraught,
Makes human Race a Prey.
It enters by a deadly Draught
And steals our Life away.

Virtue and Truth, driv'n to Despair
Its Rage compells to fly,
But cherishes with hellish Care
Theft, Murder, Perjury.

Damned Cup! that on the Vitals preys
That liquid Fire contains,
Which Madness to the heart conveys,
And rolls it thro' the Veins.

(Gin, monstro amaldiçoado, com apavorante força, faz da Raça Humana sua presa. Ele entra na forma de uma bebida mortal, e leva sua vida embora. Virtude e Verdade são levadas ao desespero, empurradas para o céu por sua fúria; mas ele nutre com cuidado infernal o Roubo, o Assassinato e a Mentira. Maldito copo!, que preda as energias vitais. Esse líquido contém Fogo, que Loucuras leva ao coração, e as faz passar pelas veias.)
Depois de tanto estardalhaço, não é de espantar que o gin tivesse se tornado o bode expiatório de todas as mazelas sociais da Inglaterra. Apesar de não ser culpado pela pobreza daquele país, o Governo colocou nele a culpa de tanta tragédia, impondo leis e impostos proibitivos que quase interromperam sua produção. Isso deu origem a revoltas populares nas ruas, no que ficou conhecido como "A Revolta do Gin".

Logo após esses levantes, o governo começou a diminuir as restrições, e fez o que deveria ter feito desde o começo: restringiu a produção da bebida aos estabelecimentos que cumprissem determinadas regras de produção, e colocou as "gin shops" sub a jurisdição dos magistrados. Isso também minimizou a principal causa dos problemas causados pelo gin naquele período: a péssima qualidade das bebidas produzidas.

Sem a obrigação de seguir nenhuma espécie de regulamentação ou leis, os produtores de gin criavam as misturas mais estapafúrdias para suprir a demanda crescente por bebidas fortes e baratas. Para obter um sabor levemente semelhante ao do jenever original, misturavam terebentina e outros solventes com água não-tratada e impurezas de todo tipo, criando verdadeiras bombas tóxicas na forma de bebida. A ingestão de solventes e produtos químicos pode trazer vários efeitos colaterais, entre eles a cegueira e a loucura. Por isso não é à toa que os bebedores de gin faziam tanta confusão e tragédia: não era o zimbro que provocava isso em suas mentes, mas sim a terebentina e outras porcarias que eles ingeriam pensando que era gin.

Levou muito tempo para que esse estigma da bebida destruidora de sociedades abandonasse o gin (se é que abandonou, como comprovam os comentários preconceituosos que ouvimos até hoje). A invenção das Colunas de Destilação em 1826 revolucionou a produção de álcool em todo o mundo, o que levou à criação de uma variação mais refinadas do gin.

No final do século XIX, já havia sido criado o London Dry Gin, que é essa bebida que chamamos de gin hoje em dia. Diferente de seu antepassado jenever, o gin londrino é transparente, tem um teor alcoólico mais alto (por volta de 38 graus, assim como a vodka) e não é envelhecido em tonéis de madeira. Essa nova bebida tornou-se socialmente aceitável, e passou a ser vendida em lojas mais elegantes do que as gin shops de outrora. Nascia assim um dos destilados mais importantes do mundo das bebidas, que logo se espalhou por todo o mundo.

As colônias inglesas foram logo invadidas pela novidade, e o gin passou a ser consumido em países tão distantes quanto a Índia, o Egito e a Jamaica. Foi nos países tropicais que os colonizadores ingleses tiveram a brilhante idéia de usar o gin para deixar mais agradável o amarguíssimo remédio que precisavam tomar para se prevenir da malária. Diluído em água carbonatada, o quinino deu origem à água tônica, que acrescida de gin e limão veio a se tornar um dos drinks mais clássicos e tradicionais do mundo: o Gin-Tônica.

Outro drink de gin que ficou famoso no mundo inteiro, graças aos filmes de James Bond, é o Martini, uma bebida sofisticada feita com gin puro acrescido de uma pequena quantidade de Vermute.

Para maiores informações, você pode visitar o Museu Nacional do Gin, na cidade de Hasselt, Bélgica.

The Champs - Too Much Tequila

Obrigado a todos que têm postado comentários, é muito importante para mim saber o que vocês querem saber! O post sobre tequila ainda vai demorar um pouco, mas por enquanto podem ir se divertindo com esse pequeno vídeo!

Até mais!

12 de setembro de 2008

História dos Drinks

Eu estou sempre atento às palavras que as pessoas buscam no Google para cair aqui, e tive a grata surpresa de ver que alguém andou procurando saber mais sobre "a história dos drinks". Achei um tema interessante para diversificar nossos assuntos, e por isso aqui vão algumas anotações sobre ele.

Desde tempos imemoriais, o ser humano, assim como diversos outros animais da natureza, buscou maneiras naturais de relaxar o corpo e o cérebro. A produção de álcool a partir de diversos tipos de vegetais sempre foi uma prática comum a quase todas as culturas primitivas, e essa tradição se mantém até hoje. Com bilhões de adeptos espalhados por todas as partes do mundo, a bebedeira é a única cola que ainda consegue manter a humanidade unida.

Quando as pessoas começaram a misturar essas bebidas para criar misturas mais interessantes, é impossível afirmar. Mas a "cultura do cocktail" começou a se refinar e se tornar uma coisa séria na mesma época em que o resto do mundo: no final do século XVIII e início do século XIX, durante a tão falada Revolução Industrial.

A palavra "cocktail", que é como os americanos costumam se referir ao que nós chamamos de drinks, já era encontrada em uma revista estadunidense de 1803. Em um editorial da revista Farmer's Cabinet (Amherst, New Hampshire, 28 de Abril de 1803), um festeiro se recuperava de uma ressaca às 11 da manhã:
"Drank a glass of cocktail — excellent for the head ... Call'd at the Doct's. found Burnham — he looked very wise — drank another glass of cocktail."
(Bebi um copo de cocktail - excelente para a cabeça ... Chamei o Doutor. Encontrei Burnham - ele parecia muito sábio - bebi outro copo de cocktail.)

Um jornal nova-iorquino de 13 de Maio de 1806 respondia à pergunta de um leitor de uma maneira republicanamente cretina:
P.: O que é um cocktail?
R.: Cocktail é uma bebida estimulante composta de spirits de qualquer tipo, açúcar, água, e bitters - é conhecido vulgarmente como bittered sling e deve ser uma ótima bebida para a época das eleições, porque deixa o coração valente ao mesmo tempo em que confunde a cabeça. Deve ser muito aos candidatos Democratas, visto que, depois de engolir um cocktail, o eleitor está pronto para engolir qualquer coisa.
Em 1831, o capitão J.E. Alexander escreveu em seu diário algo que se assemelha muito a uma receita de cocktail: "brandy, gin ou rum, misturados na proporção de um terço de spirit e dois terços de água; incorporar bitters, e enriquecer com açúcar e noz moscada..."

O primeiro guia de drinks escrito por um barman foi publicado em 1862: "How to Mix Drinks; or, The Bon-Vivant's Companion", escrito pelo "Professor" Jerry Thomas. Esse livro incluía receitas de bebidas misturadas típicas dos séculos XVII e XVIII e que ainda eram populares no século XIX, como os punches, sours, slings, cobblers, shrubs, toddies, flips, juleps, e outros nomes engraçados. Em meio a essas estranhas categorias, o livro apresentava uma lista de 10 misturas classificadas como Cocktails.

A origem da palavra "cocktail", especificamente, não tem nenhum registro histórico, mas as teorias são tão variadas e absurdas que vale a pena conferir algumas delas:
  • As palavras "cock tail" significam, em inglês literal, "rabo de galo". Dizem que antigamente as pessoas enfeitavam os copos de bebidas misturadas com uma pena arrancada do rabo de um galo.
  • A palavra francesa para "casca de ovo" é "coquetel". Dizem que um médico francês, que atendia seus pacientes americanos de Nova Orleans com um bitters medicinal que ele mesmo fabricava, servia a bebida em uma casca de ovo. Seus pacientes, não conseguindo pronunciar "coquetel" corretamente, teriam anglicanizado a palavra para "cocktail".
  • A palavra "cocktail" pode ser uma derivação do nome de uma deusa asteca chamada Xochitl. Havia uma princesa mexicana chamada Xochitl que servia bebidas aos turistas americanos.
  • Outro teoria diz que "cock tail" era o apelido dado pelos ingleses da era vitoriana às prostitutas, e teria sido usada então para descrever as bebidas que os americanos faziam adicionando "impurezas" ao tradicional gin britânico, "prostituindo" a bebida com misturas.
Mais recentemente, podemos citar a fundação, em 24 de Fevereiro de 1951, da IBA - International Bartenders Association - uma espécie de FIFA dos drinks, que promove anualmente um concurso de bartenders.

A história dos drinks no século XX é muito mais bem-documentada e por isso mesmo daria muito trabalho falar dela por aqui, mas com o tempo eu vou acrescentando algumas informações sobre cada bebida!

Glossário:
Spirits - Bebidas alcoólicas, destilados.
Bitters - Bebida alcoólica amarga, produzida com álcool e ervas aromáticas.

5 de setembro de 2008

Drinks com Vodka

Agora que você já sabe tudo sobre vodka, vamos aprender a misturar a danadinha com outras bebidas para criar sabores ainda mais divinos. A vodka é um destilado polivalente, indispensável em qualquer bar, e versátil nos cocktails. Sua função principal, devido ao seu alto teor alcoólico e sabor neutro, é diluir bebidas mais doces e espessas, principalmente licores e sucos.


Black Russian
Criado pelo barman belga Gustave Tops, do Hotel Metropole de Bruxelas.
  • 1 dose de licor de café (ex.: Kahlúa)
  • 2 doses de vodka
Servir em um copo old-fashioned com cubos de gelo.



Bloody Mary
Um drink tão esquisito quanto saboroso. Praticamente um almoço em forma de cocktail!

Coloque uma dose de vodka em um copo Highball cheio de gelo. Complete com suco de tomate (não é molho de tomate, polpa de tomate, ou purê de tomate!). Acrescente uma pitada de sal de aipo, uma pitada de pimenta-do-reino, uma pitada de Tabasco, duas ou três pitadas de molho inglês Lea & Perrin's, e uma pitada de suco de limão. Decore com um talo de aipo. Misture devagar no próprio copo.

Esse drink costuma ser decorado com qualquer tipo de comida salgada que você tiver no bar: salame, salsicha, azeitona, etc.



Cosmopolitan

O famoso "drink preferido das meninas do Sex and the City", que prestaram a esse drink um des-serviço quase tão grande quanto o desastre que o James Bond provocou ao Martini. Mas isso é uma outra história...
  • 40 ml de Vodka
  • 15 ml de Cointreau
  • 15 ml de Suco de Limão, fresco
  • 30 ml de Suco de Cranberry
Coloque todos os ingredientes em uma coqueteleira cheia de gelo. Bata bem e sirva, sem gelo, em taças de Martini. Pode decorar com uma rodelinha de limão, ou com um "twist" de casquinha de limão. Também pode decorar a borda da taça com açúcar cristal.

Infelizmente, aqui no Brasil é relativamente difícil achar o tal do Suco de Cranberry. Fresco, pode esquecer. O de caixinha quebra bem o galho, mas é difícil de achar. Tem muito restaurante chique e metido a besta por aí trocando o Cranberry por licor de cereja, e até mesmo Groselha Vitaminada Milani! Recuse imitações! Se quer beber um Cosmopolitan "como se deve", procure o CB Bar em São Paulo.



Hi-Fi
A história desse drink é meio obscura e grandes amizades já foram perdidas por causa dele, então vou passar apenas a receitinha básica e pular para o próximo drink. Um copo alto com gelo, uma dose de vodka, e completa com Crush Laranja. Como ele não existe mais, vai Fanta mesmo.



Kamikaze

Um dos meus drinks prediletos de todos os tempos! Amargo como a vida!
  • 1 dose de Vodka
  • 1 dose de Cointreau
  • 1 dose de Suco de Limão, fresco
Coloque tudo em uma coqueteleira cheia de gelo e bata muito bem. Passe pelo coador e sirva em uma taça de Martini.

Foi com esse drink que eu aprendi o poder da coqueteleira. Da primeira vez que eu fiz, não tinha coqueteleira disponível, e apenas misturei os ingredientes no copo com gelo. Ficou horrível. Um belo dia, decidi fazer mais uma tentativa, dessa vez com uma coqueteleira... Nasceu naquele dia um lindo caso de amor entre eu e o Kamikaze!



Long Island Ice Tea
Provavelmente todos os meus artigos sobre algum destilado vão ter essa bebida na lista de cocktails, porque ele é feito com basicamente tudo o que há de bom nesse mundo. Se muié fosse líquido, tinha também.
  • 3 partes de Vodka
  • 3 partes de Tequila
  • 3 partes de Rum
  • 3 partes de Cointreau
  • 3 partes de Gin
  • 5 partes de Suco de Lima
  • 6 partes de Xarope de Goma
  • 1 pitada de Coca-Cola
Não requer prática nem tampouco habilidade. Basta misturar tudo em um copo com gelo. Ou seria melhor um balde?



Salty Dog

Eu sei que chamar os outros de "cão salgado" é uma gíria típica de piratas, mas se esse drink tem alguma relação com eles, isso eu não sei. Só sei que é um nome danado de esquisito para uma bebida.
  • 2 partes de Vodka
  • 5 partes de Suco de Grapefruit
Bater com gelo em uma coqueteleira, e servir em um copo Highball com a borda cheia de sal (semelhante a uma Margarita).



Screwdriver

Quando eu era jovem e queria mudar o mundo, eu vivia indo a um bar que oferecia "1 Hi-Fi grátis para quem entrar até a meia-noite". Toda vez era a mesma coisa: eu pedia o meu Hi-Fi e lá vinha um Screwdriver. Eu insistia com o barman, com a dona do bar, com o segurança, com todo mundo: Hi-Fi é refrigerante de laranja com vodka, suco de laranja com vodka tem nome e se chama Screwdriver. Mas vocês acham que alguém me escutava?

Depois eu aprendi que beber sozinho é melhor do que conversar com idiotas.
  • 1 parte de Vodka
  • 2 partes de Suco de Laranja
  • 1 pitadinha de sal
Misture tudo em um copo alto com gelo e mande brasa.

Esse drink também aparece em uma piada daquele filme "Aperte os Cintos, o Piloto Sumiu". Da próxima vez que você vir esse filme, prepare-se para rir sozinho. De novo.



Sex on the Beach

Muitas "baladas" aqui do Brasil estão servindo esse drink porque o nome é sugestivo, mas é muito raro encontrar algum bar ou boite que prepare o coitado adequadamente. Esse drink foi criado pela rede TGI Friday's nos Estados Unidos, mas os concorrentes colocam no cardápio com outro nome porque o "sex" é ofensivo. Como se gente que bebe vodka se sentisse ofendida por alguma bobagem dessas!
2 partes de Vodka
1 parte de Licor de Pêssego
2 partes de Suco de Laranja, fresco
2 partes de Suco de Cranberry, fresco

Copo alto, gelo, misturou, decora com uma fatia de laranja. Se depois de beber você for mesmo fazer sexo na praia, use camisinha, e cuidado com a areia no calção.



White Russian

Eu não sou chegado em drinks com leite e coisas do tipo, mas tem muita gente que gosta, então aqui vai o último clássico do dia.
  • 5 partes de Vodka
  • 2 partes de Licor de Café (tipo o Kahlúa)
  • 3 partes de Creme de Leite, fresco
Pegue um copo Old-Fashioned (baixo). Coloque primeiro o licor de café, e depois a vodka. Encha o copo com gelo, e derrame o creme de leite por cima. Misture gentilmente.

A Guerra da Vodka


Acho que em termos de preconceito e ignorância do público geral, a vodka só perde para o gin. Muitas foram as vezes em que eu tive que ouvir que "vodka nunca mais", "quando eu bebo vodka eu esqueço tudo", "vodka é a bebida que mais queima neurônio", etc.

Apavorado por tanto terrorismo, levei anos até finalmente estabelecer um relacionamento saudável com essa saborosa bebida. Criada em tempos imemoriais nos países do leste europeu (provavelmente na Polônia), a vodka é a bebida destilada em seu estado mais puro. Sua composição básica é o mais puro etanol diluído em água, com quantidades insignificantes de quaisquer subtâncias "flavorizantes" ou impurezas. Esse etanol é geralmente destilado a partir do trigo, mas também existem vodkas de outros cereais, ou até mesmo de batata e beterraba. Na Rússia, a vodka de beterraba é cor-de-rosa, e seu teor alcoólico de "apenas" 40% faz dela uma bebida de meninas. Lá os "machos" bebem mesmo é vodka com 80%, 90% de álcool.

Mas quem precisa provar que é macho? Quem bebe por prazer não que provar nada, a não ser um novo sabor de bebida.

Foi o famoso químico russo Dmitri Mendeleev (aquele mesmo que inventou a tabela periódica) quem concluiu que a concentração perfeita de álcool na vodka era de 38%. Durante alguns anos, a vodka russa foi produzida com 40% para facilitar as contas, mas as vodkas mais "sérias" são feitas com 38%. Segundo as pesquisas de Meledeev, essa concentração é o equilíbrio perfeito entre o "aguado" e o "queimante".

A palavra "vodka" vem do eslavo "voda" ou "woda", que significa "agüinha". É uma bebida muito antiga, que existe na Polônia desde, pelo menos, a Idade Média. Era utilizada como remédio, para diluir ervas medicinais, ou bebida pura, com os mais variados fins.

Hoje em dia a vodka é um mercado internacional que movimenta bilhões de dólares. Existe até mesmo uma Guerra da Vodka, promovida pelos países do Cinturão da Vodka contra os "países invasores" que querem tomar o mercado das vodkas desses países. Basta dizer que existe uma vodka francesa feita com vinho, e que o país onde a indústria da vodka mais cresce atualmente são os Estados Unidos.

Francamente, amigos. Vodka americana? Seria o mesmo que beber uma cachaça sueca, um champagne japonês, ou um saquê canadense. Além disso, as bebidas têm suas histórias, e tentar mudar os mercados apenas em nome do lucro sujo é de uma insensibilidade que só um mesmo um abstêmio poderia ter.

Enquanto eles brigam lá na Organização Mundial do Comércio, aqui no Brasil nós vamos nos virando com o que temos. Feliz ou infelizmente, existem em nosso país inúmeras marcas e fábricas de vodka vagabunda, mas apenas uma de vodka meia-boca e uma vodka decente.

As vagabundas são fáceis de identificar. Algumas vêm em garrafas de plástico. Todas têm nomes pseudo-russos ridículos como "Natasha", "Barishnikov", "Roskoff" e "Baikal". "Baikal" é o nome menos ridículo dessas todas, mas a vodka é incrivelmente ruim.

Outro método para identificar as vodkas de baixa qualidade é avaliar o preço. Vamos fazer as contas. Um litro de Balalaika custa menos de R$ 4,00. Um litro de Finlandia Classic custa R$ 69,00. Qual das duas você acha que é melhor?

Agora, se todas as vodkas baratas são horríveis, nem todas as vodkas caras são boas. Existe por exemplo uma tal de Ciroc, cuja garrafa de 700 mL não sai por menos de R$ 140,00. Agora, falando francamente: você pagaria isso tudo por uma vodka francesa feita de uva? Existe ainda uma tal de Grey Goose, que eu infelizmente nunca tive a oportunidade de provar, mas já vi muitos bartenders estrangeiros dizendo que ela só é famosa porque é uma das mais caras do mundo.

Sejamos realistas. Tudo bem que o futebol foi inventado na Inglaterra e o macarrão veio da China, mas vodka boa mesmo ainda são as produzidas nos países do Cinturão da Vodka. Estou falando dos verdadeiros inventores e tradicionais fabricantes desse líquido tão delicado, uma mistura genial em sua simplicidade que é muito mais fácil fazer mal-feita do que bem. Pena que basta misturar um álcool na água para fazer vodka? Nada disso.

Aqui no Brasil, existem muitas marcas de vodka disponíveis, mas fica difícil escolher qual é a melhor relação custo-benefício. Em nome da divulgação científica, nossa reportagem experimentou diversas marcas encontradas no mercado local, e resenhou uma por uma para o conforto e comodidade dos amigos leitores.

Ninnoff, Moscowita, Askov, Balalaika, Komaroff, Bowoyka, Kriskof, Roskoff, Perestroika, Romanoff, Baikal, Zvonka, Popokelvis, Stolin, Polovtz, Natasha, Novaya, Rajska, Kovak, Snovik, Eristoff - Isso não é vodka. Não usaria nem para limpar vidro. O "sabor" dessas marcas obscuras e baratas revela altos índices de impurezas. Provavelmente são feitas com água da torneira, álcool de cana-de-açúcar, e filtradas em carvão de churrasco. São essas pseudo-vodkas que dão má-fama à bebida verdadeira em solo brasileiro. É por causa de bebidas como essas que o Brasil não vai pra frente!

Ciroc - É francesa e feita de uva. Próxima.

Orloff - Costumava se encaixar na categoria acima, mas acabou de passar por uma revitalização de marketing e ficou menos ruim. Agora ela se gaba de ser destilada cinco vezes. Realmente, o sabor ficou bem menos agressivo, e ela não dá mais tanta dor-de-cabeça no dia seguinte. Sinal de que as impurezas ficaram mesmo para trás. Mas não se deixe enganar pelas aparências: a Smirnoff ainda é melhor e mais segura.

Blavod - Custa caro e nem é tão boa. É apenas... preta. Se bebida pura em um copo transparente, é divertida, e não agride. Mas para misturar em drinks, é horrível. Experimente fazer um Screwdriver com vodka preta. Fica parecendo água de pano de chão! Desnecessária.

Grey Goose - Famosa mais pelo preço do que pelo sabor. Além disso, a minha experiência diz que bebidas com aves no rótulo são sinal de mau agouro.

Smirnoff - Marca internacional famosíssima, concorrenta direta da Absolut na Europa (lá elas custam o mesmo preço e disputam o mesmo público). Ainda não é boa o suficiente para beber pura, mas rende ótimos drinks. É a única vodka nacional que eu tenho coragem de beber. E é a única garrafa que tem dentro da minha geladeira nesse exato momento. Faço drinks com ela regularmente, e nunca tive problemas.

Absolut - Acreditem em mim quando eu lhes digo: a Absolut é boa, mas não é tão boa quanto parece. Considerando que ela é sueca, e custa relativamente caro por aqui, ela não é tão incrível assim. 50% desse apelo é design e publicidade. Façam o "teste cego" e confiram. Ainda assim, é uma ótima vodka. Excelente para drinks. Evite as versões com gosto, tipo baunilha, pimenta, etc. Vodka é álcool de cereais diluido em água. Ponto final. Quer gosto de pimenta, coloque uma pimenta no copo.

Stolichnaya - Um néctar divino que escorre pelas montanhas carpadas da Mãe Rússia. Filtrada no mais puro carvão mineral siberiano, diluída em água do rio Volga... OK, estou inventando tudo isso, mas ainda assim é a melhor vodka russa que eu já bebi, e provavelmente a melhor vodka russa encontrada no Brasil. Altamente recomendada. Coisa fina mesmo. Pode beber purinha que desce macio e reanima.

Wyborowa - A legítima wódka polonesa. Um sabor incomparável. Nunca bebi nada parecido. Recomendo comprar, arrancar o dosador, e beber direto no gargalo. Pode misturar, pode beber pura, pode tomar banho com ela, ou usá-la para abençoar a sua casa. Essa agüinha, até passarinho bebe. Altamente recomendada, especialmente para quem não gosta de vodka. Quando estiver no paredão e só tiver direito a um último pedido, peça uma dose de Wyborowa. Vale cada centavo.